Moçambique alerta que África enfrenta crise de drogas em "rápida escalada"
- 18/11/2025
"África enfrenta uma crise de drogas em rápida escalada, marcada pela diversificação dos mercados de drogas, especialmente na África Ocidental e Central", disse o ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Mateus Saize, durante a abertura da Reunião Técnica Continental sobre Validação do plano de Ação da União Africana para o controlo de drogas e prevenção da criminalidade, em Maputo.
Segundo o governante, substâncias como a cocaína e a heroína, "outrora traficadas principalmente através do continente", estão agora a "infiltrar-se" nos mercados locais e a "alimentar" o consumo interno.
"A canábis sativa continua a ser a droga mais consumida, com taxas de consumo que, em algumas regiões, atingem 10% da população com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos - mais do dobro da média mundial", explicou, acrescentando que o continente enfrenta igualmente o consumo não medicinal de opioides farmacêuticos, particularmente a codeína e o tramadol, que representaram 57% das apreensões mundiais entre 2019 e 2023.
Além do consumo, Saize alertou que estão agora a surgir novas substâncias psicoativas, "complicando" os esforços de tratamento e aplicação da lei e, destacou, os sistemas regulamentares fracos, o acesso limitado a serviços de tratamento e a aplicação da lei com recursos insuficientes "agravam ainda mais a crise".
"As projeções sugerem que até 2030 África enfrentará um fardo desproporcionalmente alto de desafios relacionados com as drogas, particularmente entre a sua população jovem, que constitui mais de 60% da população do continente com menos de 25 anos", avançou, reiterando que, embora esta realidade demográfica apresente oportunidades, também aumenta os fatores de risco para o início e consumo de drogas.
"Com implicações de longo alcance para a saúde pública, a educação, a justiça criminal e a coesão social", enfatizou.
Na ocasião, Ângela Martins, diretora interina de Desenvolvimento Social, Cultural e Desporto da Comissão da União Africana (UA), pediu que os diversos atores e governos do continente "confrontem as realidades atuais", associadas ao consumo e tráfico de drogas em África.
Para a diretora, é preciso dar atenção ao crescente uso da `dark web´ (internet oculta) para facilitar o tráfico ilícito de drogas, a proliferação de substâncias psicoativas sintéticas, muitas já produzidas clandestinamente dentro do continente, recordando também a projeção do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) que prevê um aumento de 30% no consumo de drogas em África até 2030.
Ângela Martins assinalou a "crescente vulnerabilidade" das crianças, jovens e mulheres e o risco de comprometer o dividendo demográfico do continente, caso não se atue com firmeza no controlo das drogas.
"O nosso Plano de Ação revisto deve ser abrangente, equilibrado e multissetorial --- abordando a redução da oferta e da procura com igual determinação", disse, defendendo a integração de um quadro de resultados "claro e acionável" a nível continental, sub-regional e dos Estados-membros, alinhado com a Agenda 2063 da União Africana e a Declaração Ministerial das Nações Unidas de 2019 e a integração da Declaração da Sessão de Alto Nível de Lusaca de 2023 sobre a abordagem ao uso de drogas e aos desafios de saúde mental relacionados entre jovens, mulheres e crianças.
As medidas apontam ainda para a adoção de uma estratégia sólida de advocacia para "mobilizar" vontade política e o envolvimento das comunidades, criação de um pilar dedicado ao controlo do álcool e outras substâncias psicoativas, "cujo consumo tem sido cada vez mais reportado entre pessoas admitidas para tratamento", entre outros, acrescentou.
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