Ucrânia pede à Rússia 43 mil milhões de compensação climática
- 18/11/2025
"De muitas maneiras, a Rússia está a travar uma guerra suja e o nosso clima também é uma vítima. As enormes quantidades de combustível queimado, florestas devastadas, edifícios destruídos, betão e aço utilizados, todas estas coisas são essencialmente 'carbono de conflito' e têm um custo climático considerável", justificou em Belém, no Brasil, o vice-ministro ucraniano da Economia, Ambiente e Agricultura, Pavlo Kartashov.
Na COP30, onde estão presentes representantes de cerca de 170 países, Kartashov disse que os ucranianos "enfrentam diariamente a brutalidade", acrescentando que "as ondas de choque climáticas desta agressão serão sentidas muito além das nossas fronteiras e no futuro".
O valor que a Ucrânia exige baseia-se num relatório publicado em outubro pela "Iniciativa sobre Contabilização de Gases com Efeito de Estufa da Guerra" (IGGAW -- com financiamento internacional e apoio do Governo ucraniano, ONG e universidades).
A iniciativa calculou que a invasão da Rússia criou emissões de aquecimento global equivalentes a 236,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono, e aplicou um "custo social do carbono" para chegar a um total de 43,8 mil milhões de dólares americanos.
O principal autor do relatório da IGGAW, Lennard de Klerk, afirmou que "a documentação meticulosa das emissões de carbono da invasão da Ucrânia pela Rússia será a base do pedido de indemnização da Ucrânia. O mecanismo para tal está estabelecido no direito internacional e, uma vez apresentado, tornará a Ucrânia o primeiro país a responsabilizar outro país pelas emissões climáticas resultantes da guerra."
A Ucrânia criou uma lei para orientar uma "recuperação verde" e atrair investimentos e já se comprometeu a alinhar-se com as políticas climáticas da União Europeia (UE).
A proteção climática e a recuperação verde foram temas de uma conferência de alto nível sobre a recuperação da Ucrânia neste verão, na qual a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um financiamento de 265 milhões de euros para a segurança energética e a "transição verde" da Ucrânia.
Tanto o Brasil como a Ucrânia são países com uma biodiversidade excecional e ambos estão a dar prioridade à recuperação da natureza na COP30.
Segundo um documento sobre o pedido da Ucrânia, a que a Lusa teve acesso, cerca de três milhões de hectares de florestas ucranianas foram destruídos ou danificados pela guerra, reduzindo a sua capacidade de absorção de gases com efeito de estufa em 1,7 milhões de toneladas por ano. A Ucrânia abriga um terço (35%) da biodiversidade europeia, embora a guerra tenha aumentado a pressão sobre mais de mil espécies ameaçadas de animais, plantas e fungos.
O mesmo documento explicita que as forças militares dos dois países utilizaram 18 milhões de toneladas de combustível, incendiaram 1,3 milhões de hectares de campos e florestas, explodiram centenas de estruturas de petróleo e gás e encomendaram grandes quantidades de aço e cimento para fortificar centenas de quilómetros de linhas de frente.
As emissões são equivalentes às emissões anuais da Áustria, Hungria, República Checa e Eslováquia combinadas.
A COP30 começou no passado dia 10 e deve terminar na próxima sexta-feira.
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